L I T E R A T U R A D E CO R D E L
O HOMEM DOS CANDEEIROS
Marinho do Nordeste
São inúmeros os fatos
Histórias e anotações
Que o povo daquele época
Passou às gerações novas
Na boca das multidões
Que endossaram o crédito
Eis aqui um outro (inédito)
O caso dos lampiões
Conta-se que um cidadão
Levando vida sofrida
Sem ver como melhorar
Foi pedir ao Milagreiro
Um conselho tutelar
Para ver se conseguia
Fazer da noite pro dia
Sua vida prosperar
Depois de lhe dar a bênção
Padrim Ciço perguntou
Ao forasteiro se tinha
Na vida uma ocupação
O ouvinte respondeu: Sim
Eu sei fazer candeeiro
Mas isso não dá dinheiro
Me diga outra profissão
Disse-lhe o Padre: Primeiro
Tenha paciência, filho
Volte pra casa ligeiro
Não dependa do rastilho
Fabrique só candeeiro
A fé remove montanha
E quem tem fé é quem ganha
No escuro muito dinheiro
O romeiro regressou
Para a roça inconformado
À beira do desespero
Sem saber porque o Padrinho
Tão sábio e conselheiro
Lhe obrigava ao incessante
E tão desinteressante
Fabrico de candeeiro
Voltou triste descontente
Mas confiante no que ouvia
Dizer sobre aquele guia
O coitado penitente
Mais uma vez se entregou
Ao ofício de artesão
E a fazer candeeiro
Pôs-se infatigavelmente
Certo dia já cansado
De esperar com sacrifício
A recompensa do Céu
Pelo detestado ofício
Retornou ao Juazeiro
Pra fazer novo pedido
Pois já havia enchido
O quarto de candeeiro
O Padre experiente
Vendo o padrão vibratório
Naquele dia exato
Disse conciliatório:
Filhinho, não seja ingrato
Os candeeiros são seus
Mas os conselhos são meus
Volte à cidade do Crato
O forasteiro parou
Para pensar outra vez
Certo de que fora em vão
Os candeeiros que fez
E enchiam mais de um quarto
Quando passados três dias
Grande falta de energia
Escureceu todo o Crato
Com a cidade às escuras
O romeiro se lembrou
Das palavras do Padrinho
Em que quase não confiou
Toda a população
Bateu-lhe à porta em vozeiro
Comprou todo candeeiro
A preço de ocasião
Fragmento do livro A Teologia Ciceriana
Padre Cícero
Marinho é Cordelista e membro da Academia Brasileira de Cordel
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