Quem foi Armando Gonçalves?
Por Nelson Marzullo
Tangerini
A Roda Literária do Café Paris é, sem sombra de dúvida, o movimento mais
importante e significativo na história da literatura fluminense.
Aconteceu em Niterói, nos Anos 1920, quando a Cidade Sorriso era a
capital do Estado do Rio de Janeiro.
Kléber de Sá Carvalho, Luiz Leitão, Nestor Tangerini, Brasil dos Reis, Armando
Gonçalves, Luiz de Gonzaga, Mazzini Rubano, Olavo Bastos, Benjamim Costa,
Luiz Pistarini, Gomes Filho, Varon, Apollo Martins, Renê Descartes de
Medeiros, frequentavam o referido Café. Eram conhecidos como os rapazes
do Paris. Ou “parisienses”.
O gonçalense Armando Rodrigues Gonçalves, mais conhecido como Armando
Gonçalves, merece ser lembrado em sua cidade e pelos fluminenses, uma vez que
foi um grande um exímio sonetista.
Em
sua Antologia de Poetas Fluminenses, publicada na cidade do Rio de
Janeiro, em 1968, pela Gráfica Record Editora S. A., o escritor e
pesquisador Rubens Falcão registra a passagem do poeta por nossas letras:
“Nasceu em São
Gonçalo, a 2 de maio de 1888; faleceu em Niterói, a 22 de agosto de 1962.
Professor diplomado pela Escola Normal, lecionou no extinto Colégio Abílio e,
até o ano de 1919, no próprio estabelecimento por onde se formara e do qual
viera a ser secretário e, mais adiante, o 8º. Diretor. Bacharelando-se em
Direito, exerceu, por algum tempo, a advocacia. Jornalista, foi assídua a sua
contribuição à imprensa carioca e fluminense. Inspetor geral do ensino e
diretor do Departamento de Difusão Cultural, às atividades desse órgão imprimiu
a marca do seu idealismo. Produziu muito, produziu mesmo intensamente, tanto em
prosa como em verso, abrangendo a sua obra os mais variados assuntos. Talvez o
excesso dessa profundidade o tenha prejudicado, como ele próprio o reconhece ao
referir-se, em outubro de 1938, ao seu trabalho poético: ‘Foram páginas
escritas em várias épocas de nossa vida literária e, por isso mesmo,
plenas de nossas deficiências, quer de cultura quer de técnica, na feitura do
verso’.
Colégio Abílio Cesar Borges
E mais à frente: ‘Agora, após o cotejo desses livros, chegamos à
conclusão de que há em suas páginas algo que poderia muito bem desaparecer ao
critério de uma análise mais demorada’. Só de poesias deixou 28 volumes
de que as melhores estavam destinadas a uma edição definitiva, com o nome de
´Páginas Preferidas’. Após sua morte, a filha, professora Romanda Gonçalves,
fez publicar o livro das poesias, evento celebrado nos meios intelectuais da
capital. Armando foi um dos fundadores da Academia Fluminense e o primeiro
ocupante da cadeira nº. 26, patronímica de Lúcio de Mendonça. Entretanto, mais
tarde renunciaria à investidura, na vigência de Estatuto que consentia essa
faculdade. Foi organizador e diretor intelectual de ‘Colar de Pérolas’,
coletânea de sonetos publicada em 1919”.
Publicamos
aqui ‘Falando ao mar’, um de seus notáveis sonetos:
“Por que
encerras, ó Mar, em teu seio espumante
Esta mágoa
sem fim, este chorar fecundo?...
Se a teus
pés se avoluma um tesouro radiante,
E dominas
um Reino e governas um Mundo?
Por que
encobres assim teu segredo, hesitante,
Tu,
lendário Senhor dos Mistérios oriundo?...
Vamos!...
responde! – Ao Mar inquire o navegante...
E uma
queixa responde a esse inquirir profundo.
Se a Paixão
te consome e te encerra esse egoísmo...
Oh! não queiras
cair de abismo sobre abismo,
Nessa mágoa sem
fim que nos corações comprime.
Mas, se acaso te
vês num crime encarcerado,
Não procures, ó
Mar, falar do teu passado!
Não procures, ó
Mar, desvendar o teu crime!”
Armando Gonçalves
e demais poetas do Café Paris continuam desconhecidos. Ainda não foram incluídos
pelas universidades e pelas escolas. Não há espaço para eles em livros
didáticos. Talvez porque tenham preferido o formato parnasiano, ainda que
muitos apresentem um trabalho de conteúdo simbolista, impressionista ou
modernista. Reina, enfim, o silêncio nos corredores acadêmicos, uma vez que os
cânones literários [dizem] não podem ser alterados, o que é lamentável.
Acontecia em São Paulo
a devastadora Semana de Arte Moderna [financiada por um rico e notável
empresário paulista], declarando guerra aos sonetos parnasianos, simbolistas e
pré-modernistas. Porém, aqueles talentosos rapazes do Paris, sem
patrocínio de ninguém, deixariam para sempre seus nomes registrados na História
da Literatura Fluminense.
.
Nelson Marzullo
Tangerini, 59 anos, é escritor, memorialista, poeta, compositor, jornalista,
professor de Língua Portuguesa e Literatura e fotógrafo. É membro do Clube de
Escritores Piracicaba, onde ocupa a Cadeira 073, Nestor Tangerini, da ALB,
Academia de Letras do Brasil, da UBE, União Brasileira de Escritores, e da ABI,
Associação Brasileira de Imprensa.
Olá! Boa Tarde. Sou pesquisador e entrei nesta página que despertou-me especial interesse para saber se Armando Gonçalves pertenceu ao Cenáculo Fluminense de História e Letras.Gostaria de ser contactado pelo e-mail j.baesso@uol.com.br Grato e parabéns pela página. Juber Baesso
ResponderExcluirAgradeço muitíssimo por terem divulgado meu texto. Faço palestras. NMT. nmtangerini@yahho.com.br
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