AS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO E SEU IMPACTO NAS ELEIÇÕES.
Matheus Guimarães
Ao ver o título deste texto, o leitor
poderá deduzir que eu acredito que as Jornadas de Junho irão influenciar nosso
cenário político para estas eleições. Não. Não creio nisso e utilizarei este
texto para enunciar os porquês:
1) As Jornadas de Junho representaram as
revoltas de um público muito específico – a classe média, ou pequena-burguesia.
Este setor da sociedade se sentiu esquecido pelos 12 anos de governo PT, que
concedeu privilégios aos ricos, assistiu aos pobres, mas não desenvolveu
políticas para esta classe. A maior prova disso foram as vozes gritando “sem
partido” e as agressões feitas à militantes históricos. Naquele momento, a
esquerda zona sul perdeu o controle do monstro que havia criado.
2) Se na Av. Presidente Vargas um milhão
de pessoas podem parecer muitos, nas urnas este número é praticamente invisível
diante dos outros milhões de votos da grande massa. Além de serem poucos, os
participantes destas manifestações não possuem um bom histórico de participação
política na sociedade real. Preferem fazer suas viagens culturalmente
importantes pela Disney e viralizar suas hashtags revoltadas nas redes sociais
ao invés de participarem de movimentos sociais realmente ativos e importantes
no seu território.
3) A velha esquerda brasileira, já
caduca e precisando de sangue novo, não irá saber captar todo este capital
político e ocupar o espaço deixado pelo PT ao se tornar governo. E digo isso
por um grande motivo – a supervalorização deste movimento. Os partidos
radicalmente à esquerda – PSOL, PCB e PSTU – tiveram análises diferentes,
apesar destes liderarem as manifestações e o vexatório #NãoVaiTerCopa.
O PSOL tende a supervalorizar este
movimento, por ser um partido que, aqui no Rio, ainda representa somente a Zona
Sul e Icaraí, bairros presentes nos comprovantes residenciais dos chamados
Black Blocs. Também por ser um partido novo e conectado com os jovens, o PSOL
utilizará junho para abarcar os votos desta juventude inconformada.
PCB e PSTU, partidos históricos e na
vanguarda da luta de classes no país, tendem a subvalorizar o movimento, pois
são profundamente enraizados no movimento sindical. Culturalmente, estudantes e
trabalhadores possuem pautas diferentes, mesmo englobando o mesmo campo político.
A estratégia destes partidos será trazer as bandeiras de junho de 2014, onde um
espectro de greve geral rondou o país e manifestações contra as burocracias
sindicais tomaram conta dos estados. Estas manifestações sim, foram feitas de
trabalhadores reais com pautas reais, por isso o saldo político também foi real.
A análise final que faço é a de que quem
mais sairá ganhando com este movimento é a direita, pois se milhares apoiavam o
movimento, milhões de pessoas ficaram revoltadas assistindo ao quebra-quebra
pela TV. Os discursos moralistas de repressão aos movimentos sociais terão vez
e voto de milhões – pais de família que foram descontados por faltarem ao
trabalho com medo da violência, ou de senhoras idosas que não puderam receber
suas aposentadorias nas agências bancárias estilhaçadas.
Por estas e outras que um projeto
político de esquerda e popular se faz necessário. Um projeto sem concessões ao
capital financeiro e que atenda as demandas reais da população pobre e
trabalhadora.
Matheus é aluno de história da UFF e
Nativo Gonçalense
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