Crônicas

A Lição dos Malês


Por André Correia


No ano de 1835, o Brasil escravista conheceu a resistência africana como nunca havia visto na história: A revolta dos Malês. Um acontecido que marcou não só a vida de muitas famílias com também a história do nosso país. Eram escravos bem parecidos com os outros que aportavam no estado, mas com uma diferença importantíssima para organização social deles.  Eram nobres guerreiros e tinham o domínio da leitura. A maioria dos negros muçulmanos que viviam na Bahia era nagô, de origem Ioruba. “Malês” era só um termo pra não perde-los de  vista. A identidade étnica e religiosa desempenhou papel crucial para deslanchar o movimento contestador.


Acontece que a maioria desses negros eram livres e exerciam atividades importantes no funcionamento da cidade. Eram Padeiros, Pedreiros, artesãos, alfaiates, carpinteiros, comerciantes e negros de ganho, portanto, estavam sempre em relação com a troca de  mercadoria e com o dinheiro.


Mas, apesar de serem livres os negros sofriam restrições e preconceitos que se tornaram insustentáveis ao longo dos anos. Foi então que uma mulher resolver pensar a vida de forma diferente: Luzia Marrin, era o nome da guerreira. Juntou-se com mais 11 negros entre escravos e libertos:   Ahuna, Licutan, Sule, Nicobé, Dassalu, Gustard, haussá, Licoli   Manoel Calafate, Luís Sanim e Elesbão do Carmo. 12 negros malês e 1 segredo. Os negros se organizaram e fizeram um plano de ataque saindo do bairro vitória onde tomariam a capital, com a ajuda negros vindos dos mais variados cantos da Bahia. Coisinha simples: Compraram armas e mantimentos pra guerra, planejaram invadir as fazendas, libertar os negros, atear fogo na plantação, quebrar os engenhos, matar os brancos resistentes, aprisionar os rendidos, prender os mulatos, acabar com o catolicismo e instaurar uma república islâmica.




Há exemplo do que aconteceu com Eva no Jardim do Edem , a culpa pela delação do segredo ficou também ficou por conta de uma mulher, o nome da escrava arrependida era Loanda Sanni. A dita cuja contou ao Juiz de Paz da Capital, que se revelou grandessíssimo Juiz dos Infernos pois avisou imediatamente a guarda real, que organizou a tropa e seguiu para  o bairro de vitória, onde os malês sofreriam a maior derrota da história. 

Era manhã do dia 25 de janeiro de 1835 quando os lideres foram acordados antes do galo cantar no sertão da Bahia. A  resistência durou por 2 dias: 7 soldados e 70 negros mortos.  700 presos e 700 condenados. A  considerar  o ódio que pulsava no olhar  dos juízes, o resultado não podia ser diferente.




O degredo ao Deserto africano foi um dos principais castigos imputados aos negros revoltosos, além do sacrifício das lideranças, é claro. O escravo Julião Haji, o pequeno Dassaí , a menina Dandara  e sua esposa Luiza, foram  abandonados por um navio da guarda nacional portuguesa em uma inóspita região do Norte da África em 25 de junho de 1835. A Família  vagou por (3) meses no escaldante deserto do Saara em busca de civilização. As terras sofredoras da caatingas brasileiras haviam lhes dado força pra seguir adiante, onde encontraram um povoado que lhe deram abrigo  e moradia pois sabiam ler e escrever o idioma local.


O massacre dos Malês serviu de exemplo as gerações futuras para não contestarem  sua condição de escravo, serviu de lição aos escravos para não ousar enfrentar o reinado e serviu a história nacional para contar o quanto os homens resistem diante da exploração e dos maus tratos ao ser humano. 




"Qualquer semelhança com a realidade pode ser uma mera coincidência, ou não né



André Correia é Professor de História e ativista cultural

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O Projeto Cultural Alternativo foi criado no ano de 2006 na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, no município de São Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro. O grupo tinha como objetivo promover o saber e difundir a cultura Gonçalense dentro da universidade. Após este período de atuação o Projeto deixou a Sociedade Acadêmica e ampliou o arco de atuação na Sociedade Civil e organizou-se em duas vertentes voluntárias: GT Bem Estar, com ênfase na Proteção aos Animais e o GT Cultural, com ênfase no Patrimônio, na História e na Memória regional. Em oito anos de atuação os grupos promoveram leis municipais, sistematizaram encontros políticos, convocaram plenárias no legislativo, lançaram dois Livros, atuaram nas escolas públicas e na rede privada. Além disso, o projeto inaugurou o setor de comunicação atuando na rede online e na mídia escrita.