Artigo: O Trabalho no Mundo Contemporâneo

O LOCAL DE TRABALHO É UM LUGAR DE VIVER?

Por Lucien Pires


Basta um olhar mais cauteloso nas páginas dos jornais, nas capas de revistas que promovem a informação com qualidade, para observarmos que o mundo passa por transformações e mudanças aceleradas , que nos deixam ansiosos e com a sensação de que não temos mais certeza de nada. Assim, sob os mantos da ciência, da tecnologia e da admirável capacidade humana de buscar o progresso, o mundo mergulha intensamente num processo contínuo e veloz de transformações praticamente em todos os campos do conhecimento e da vida social.

Estas mudanças, também se inscrevem no ambiente de trabalho, no dia a dia das empresas de maneira até mesmo não conscientizada por nós e, suavizada nos hábitos contemporaneos da Pós-Modernidade. A competição, já se instaurou entre os homens, com o surgimento destes na História.  Lembremo-nos do fatalismo realista, da sentença de Thomaz Hobbes " O homem é o lobo do homem". Por este prism a inerente à condição humana, delegamos ao Estado o poder de coerção e vigilância sobre nossas condutas e nossos corpos.


As teorias sociais se debruçam no dilema dos efeitos negativos e positivos, da competição entre os homens. A competição é a forma mais elementar e universal de interação entre os homens é geralmente inconsciente e impessoal, mas há de ser resguardada em padrões éticos. O trabalho surgiu da necessidade do homem em se impor diante da natureza. Lapidamos pedras, afiamos estacas, espalhamos sementes e domesticamos animais. Laços mútuos de solidariedade foram edificados, mas também, esses mesmos laços, sucumbiram ás rupturas trazidas pelas guerras, pela competição fora dos parâmetros previamente acordados.

Veio o Capitalismo e com ele o controle sobre o trabalho. Outrora às corporações de ofícios deram lugar ás fábricas e as industrias. No artesão, vimos, a imagem de um operário exproriado da totalidade do seu saber-fazer. Mudou-se a concepção de competição e também a abordagem da ética no trabalho. Karl Marx, baseou sua teoria, no inconformismo advindo da assimetria da relação capital e trabalho.A sangue, suor e muitas greves, o trabalho reconsiderou eticamente, seu elemento central: o trabalhador.Atualmente as relações de trabalho, também são ecos do que acontece fora do ambiente empresarial. As pressões sobre empregados e patrões são em regime de urgência. A competição é global, é internacional, seguem-se rígidos padrões de qualidade, porque o mundo se tornou um grande mercado que é disputadíssimo por Estados, Blocos Econômicos, multinacionais e, só prepondera ,quem apresenta um produto com altíssima qualidade e preço atraente. Palavras como flexibilidade, metas, satisfação do cliente, reduçao de custos, residem na mente de qualquer patrão e empregado.


 Richard Sennett(1998) sociólogo americano, em sua consagrada obra " A corrosão do caráter" argumenta que este emergente ambiente de trabalho, com ênfase nos trabalhos de curto prazo, na flexibilidade, não possibilita que as pessoas desenvolvam experiências ou construam uma narrativa coerente para suas vidas, impedindo a formação do caráter. Sennett ,escreveu seu ensaio, baseado na atmosfera das relações de trabalho, no capitalismo desenvolvido nos EUA dos Anos Noventa, entrevistando executivos demitidos da IBM em Nova Iorque e, também trabalhadores de empresas de menor porte, como uma padaria ultramoderna em Boston.


Para Sennett o desenvolvimento do caráter depende de virtudes estáveis como lealdade, comprometimento, confiança e ajuda mútua. É uma obra instigante, mas devemos tomar cuidados em relação as especificidades da realidade do trabalho nos EUA comparada a do Brasil. Aqui as relações no trabalho, tendem a ser mais pessoais, por nossa formação cultural, o que não nos impede de tornarmos a empresa competitiva no mercado e, também fazermos dela um lugar de viver condignamente.



Um comentário:

  1. Muito interessante a iniciativa. Parabéns. Tudo que acrescenta e é para o bem vale a pena. SUCESSO.

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O Projeto Cultural Alternativo foi criado no ano de 2006 na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, no município de São Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro. O grupo tinha como objetivo promover o saber e difundir a cultura Gonçalense dentro da universidade. Após este período de atuação o Projeto deixou a Sociedade Acadêmica e ampliou o arco de atuação na Sociedade Civil e organizou-se em duas vertentes voluntárias: GT Bem Estar, com ênfase na Proteção aos Animais e o GT Cultural, com ênfase no Patrimônio, na História e na Memória regional. Em oito anos de atuação os grupos promoveram leis municipais, sistematizaram encontros políticos, convocaram plenárias no legislativo, lançaram dois Livros, atuaram nas escolas públicas e na rede privada. Além disso, o projeto inaugurou o setor de comunicação atuando na rede online e na mídia escrita.